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março 19, 2024
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Produção integrada de morango agrega valor à fruta e reduz uso de químicos

A Produção Integrada de Morango (PIMo) permite ao agricultor utilizar cerca de dez vezes menos defensivos químicos, aumenta a produtividade por planta e ainda gera um fruto mais valorizado pelo mercado consumidor. Foi o que descobriram os produtores da região de Atibaia e Jarinu (SP), que adotam a PIMo desde 2006 e conquistaram a primeira certificação brasileira em 2011. Desde então, eles passaram a utilizar um selo para indicar a procedência de seu morango, o que agregou valor ao produto.

Em 2017, o município de Piedade também aderiu à produção integrada da fruta. Os agricultores ainda relatam ganhos em sustentabilidade, qualidade de vida, segurança do alimento e melhora dos produtos.

A PIMo permite o uso de agrotóxicos, desde que registrados e utilizados como último recurso, e otimiza técnicas de plantio, manejo, colheita e pós-colheita. Conforme Fagoni Calegario, pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente (SP) e coordenadora do processo desde o início, “a integração entre os profissionais é condição fundamental para que produtores, técnicos e diversos agentes da cadeia produtiva possam compreender e adotar práticas mais sustentáveis”.

“A certificação foi um passo importante que permitiu aos produtores comprovar, por meio de diversas evidências, que todas as boas práticas agrícolas e de fabricação foram adotadas, gerando um morango de alta qualidade e segurança. Essa comprovação torna-se cada vez mais importante no cenário atual, em que a inocuidade dos alimentos e a sustentabilidade consolidam-se como fatores de competitividade das cadeias agrícolas”, acredita Calegario.

Atualmente, os sete produtores certificados no estado de São Paulo cultivam aproximadamente 100 mil pés de morango em dois sistemas: solo e semi-hidropônico (hidropônico cultivado em substrato), com ótimos resultados, de acordo a pesquisadora. Em 2018, o produtor Keiji Nakashima inaugurou o primeiro colha-e-pague de morango certificado em Atibaia, sistema em que o próprio consumidor colhe as frutas que vai levar para casa.

Como o objetivo do sistema é reduzir a utilização de agrotóxicos, desde as primeiras etapas são observados critérios técnicos e adotadas as boas práticas agrícolas. O produtor Osvaldo Maziero, de Atibaia, trabalha com a PIMo desde 2008. Ele enfatiza a importância dos ganhos ambientais pela redução do uso de defensivos. “Isso interfere diretamente na qualidade dos morangos, já que o uso desses produtos é planejado e controlado. O uso racional de agrotóxicos é um caminho que não tem volta. Somos os pioneiros em Produção Integrada de Morango no Brasil. Criamos a marca do morango certificado Atibaia-Jarinu e outras regiões estão nos seguindo o exemplo. Esse modo de produção começou aqui e queremos que continue. Somos o berço do programa e temos orgulho disso”, relata o produtor.

Para o produtor Cláudio Donizeti dos Santos, também de Atibaia, os ganhos, além de ambientais, foram também financeiros, já que vende 90% da sua produção diretamente aos consumidores por um preço diferenciado, que considera justo, uma vez que os morangos têm a garantia de segurança do alimento.

“Com a produção integrada, a economia com o uso de defensivos é um benefício para nós produtores e também para os consumidores. Conseguimos fazer melhor e ganhamos por esse diferencial. Antigamente, usava mais produtos químicos. Agora, só quando é muito necessário,” relata.

Para o responsável técnico de Atibaia Marcos Albertini, os produtores ficaram mais conscientes quanto ao uso de agrotóxicos. Além disso, a implantação da PIMo e o contato com outros produtores os tornaram mais predispostos a receber informações técnicas. “A produção de morango, com os cadernos de campo, passou a ser mais empresarial, mais profissional”, acredita Albertini.

Morango com menos químicos

Frequentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulga os resultados do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos (Para), alertando sobre os perigos da contaminação de produtos hortifrutícolas por resíduos de agrotóxicos. O morango sempre ocupava lugar de destaque entre os produtos com maior porcentagem de irregularidades. “Nesse contexto, a certificação de um sistema sustentável com a chancela do Inmetro aparece como alternativa para que os produtores garantam mercado, oferecendo um morango diferenciado,” acredita Fagoni.

O Manejo Integrado de Pragas (MIP) é o “coração” do sistema de produção integrada, ou seja, a base técnica para a redução da utilização de agrotóxicos. O investimento financeiro em uma cultura de morango é relativamente alto e as plantas são bastante suscetíveis a pragas e doenças. Além disso, as condições climáticas ótimas para o desenvolvimento das plantas muitas vezes são as mesmas que favorecem a ocorrência das pragas.

Um décimo dos custos em defensivos

Em uma pesquisa anterior, a engenheira agrônoma Larissa Iwassaki desenvolveu um estudo no qual foram utilizadas estratégias para controle biológico de ácaro-rajado (Tetranychus urticae). As práticas permitiram reduzir em seis vezes a quantidade de agrotóxicos empregada, de 12 para duas aplicações, diminuindo os custos do controle químico a quase um décimo do valor gasto na produção convencional. Porém, quando somados aos custos do controle biológico, o gasto na produção integrada foi cerca de 6% maior. Uma diferença que pode ser compensada pela maior valorização do produto gerado em PIMo pelo mercado, produtividade por planta quase duas vezes maior e pelas vantagens ambientais e de saúde que proporciona.

Uma das razões de a parcela da PIMo apresentar menor infestação dessa praga foi a presença nessa lavoura do ácaro predador Neoseiulus californicus, um inimigo natural do ácaro-rajado. Para isso, os pesquisadores usaram um acaricida seletivo, o que ajudou a preservar o predador da praga e a controlá-la.

Outra vantagem do emprego de ácaros predadores é a redução da pressão de seleção sobre a população do ácaro-rajado. Isso significa que, com menos contato com agrotóxicos, a praga sofre um processo mais lento de evolução de sua resistência a acaricidas. Em outras palavras, demora-se mais tempo para aparecerem linhagens de ácaros resistentes aos produtos químicos.

“A estratégia resultou em duas grandes melhorias: a exposição seis vezes menor dos trabalhadores aos agrotóxicos e a produção de alimentos livres de perigos químicos”, explica Iwassaki.

Na produção integrada, a garantia do equilíbrio fisiológico e nutricional das plantas desde o início confere maior resistência a pragas e doenças. As adubações observam obrigatoriamente as recomendações feitas com base nos resultados das análises de solo. As variedades são escolhidas de acordo com sua aptidão climática e resistência a problemas fitossanitários. O sistema de irrigação é determinado de forma a evitar o desperdício de recursos hídricos e o molhamento excessivo das folhas, que provoca o aumento da incidência de doenças. A rotação de área é obrigatória, visando manter o cultivo em locais onde haja sempre a menor pressão possível de doenças pré-existentes.

Gestão ambiental personalizada

O pesquisador da Embrapa Meio Ambiente Claudio Buschinelli organizou, com os produtores e responsáveis técnicos, um cronograma para avaliar o empreendimento e elaborar um plano de gestão ambiental de cada propriedade. Foi usado o Ambitec Agro-PIMo, sistema que avalia os impactos econômicos, sociais e ambientais após a adoção da Produção Integrada de Morango e permite verificar os avanços, ou seja, a eficiência na aplicação da tecnologia. “O plano de gestão ambiental permite aos envolvidos terem consciência do que conseguiram implementar e o que podem melhorar”, conta.

Conforme o analista da Embrapa Meio Ambiente Sandro Pereira, a estratégia de implementação da PIMo-SP teve como principais destaques a união dos produtores e sua organização para, inicialmente, fazer os registros e as anotações de campo que o sistema demanda. Em seguida, os produtores de Atibaia conseguiram captar recursos externos por meio do Orçamento Participativo. “Os diferenciais foram o início com planejamento estratégico participativo (macroeducação) e a continuidade desse planejamento no decorrer dos anos. A adoção de um calendário sistematizado permitiu a adequação às etapas de adoção da PIMo condizentes com a sua realidade. Sem contar que as normas oficiais foram elaboradas com a participação dos produtores, do Inmetro, do Mapa e das diversas instituições parceiras”, enfatiza Pereira.

Como obter o selo

Uma vez implantado o sistema de produção integrada e garantidas as boas práticas nas instalações de apoio – casa de embalagem, local para armazenamento de agrotóxicos, local de guarda de ferramentas e equipamentos, instalações higiênico-sanitárias (banheiros e lavatórios), local para lavagem e guarda de equipamentos de proteção individual (EPI) e local para guarda de objetos pessoais e a rastreabilidade – um serviço de certificação de terceira parte (oferecido por certificadoras) deve ser contratado para comprovar o cumprimento de todos os requisitos das normas técnicas. Em caso de adequação, o produtor poderá se beneficiar da utilização de um selo de identificação da conformidade, o selo Brasil Certificado – Agricultura de Qualidade.

Fonte: Embrapa Meio Ambiente

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